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Sou uma colagem
descobri outro dia
lendo uma postagem.
Pensei:
sou a soma de muitos cacos
Se isso é bom ou ruim?
Ainda não sei,
vou começar pelo fim.
O fim é a hora de colar.
Umas partes foram coladas
por terapeutas, psiquiatra.
Teve caco colado por religião
espiritismo, jogo de cartas,
pedindo agô ou misericórdia
como juntar tantos pedaços
sem causar discórdia?
Talvez alguns cacos
eu tenha deixado por aí
como gente que chegou,
azucrinou e deixei partir.
Agora, os cacos que eu colei
foram com afeto, devoção
e com um pouco de intuição.
Não quis me desfazer de amores
de lembranças, sons, sabores
e assim, cada pedaço
eu juntei, não foi fácil.
Me esmerei, esmerei, esmerei.
E chegando ao meio
do processo de colação
às vezes dá nervoso
parece uma confusão.
Pois tem pedaço de muita
gente que fui e que embora
consertada, ainda sou.
Consertada não! Colada.
Remodelada porque eu
não quero ficar assim
toda escangalhada!
E o momento que era pra ser o fim
vira começo. Tem pedaço de mim
de tudo que é jeito, tem criança
tem rebelde em plena revolução
tem mãezona, amiga, furacão.
Tem pedaço de filha, de namorada,
de cozinheira, caseira, tem até rueira,
daquelas que vivem com pé na estrada.
E depois de tantos anos, tanta colagem
e muitos desenganos…
Acho que fiquei bem bacana
às vezes dura e em outras, banana.
Sabe, às vezes é até divertido
encontrar um pedaço
que eu jurava ter perdido.
Aí bate uma emoção
achava que era junção,
a soma de muitos cacos.
Mas é aí que me acho
Porque não sou colagem
sou apenas uma sobrevivente
Ou uma obra de arte.
Rosa Scarlett
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