Conversas de Semana Santa
- Rosa Scarlett
- 18 de abr.
- 4 min de leitura

Motivada pelo diálogo com minha amiga e escritora Rosa, do blog Preta de Palavras, decidi trazer algumas memórias e reflexões sobre a Sexta Santa. Quando penso no período que conta sobe a tortura e morte de Jesus, também chamada de a Paixão de Cristo, logo me vem um sentimento de estranheza. Sou uma pessoa apaixonada e vejo a paixão como algo positivo, algo que me move para bons lugares ou que acredito que sejam bons. E se entregar ao sacrifício não parece ser bom, mesmo considerando todos os significados espirituais e a realidade política do mundo há séculos em que pessoas que divergem do poder são perseguidas e mortas.
A primeira lembrança que sempre me vem a mente sobre esse período, ocorreu quando meu filho era pequeno. Foi na primeira vez que ele reparou na imagem de Cristo cruxificado. Estávamos na casa de minha mãe e ele viu uma imagem, por coincidência, fui eu quem deu a arte pra ela. Trata-se de uma imagem em estilo barroco que comprei numa viagem em Minas Gerais durante a Semana Santa há muitos anos.
Meu filho, me chamou aflito e mostrou Jesus "olha mãe, é ele, é Jesus?" falei "sim, meu filho, ele morreu assim". Ele não se conformou "tadinho, mãe, mas por que?' e expliquei que foi por causa do amor. Jesus disse que a salvação seria pelo amor e logo ouvi uma fala ainda mais indignada "por causa do amor?"
Como sou espírita há muitos anos, decidi que não teria imagem de Jesus em sofrimento, ao contrário, tenho um quadro onde ele está sorrindo, essa é a imagem que meu filho tem, Fiquei encantada com a indignação dele porque nos acostumamos com a existência dessa imagem. Lembro que quando éramos criança, sempre víamos o filme sobre a paixão de Cristo na sexta-feira. E não comíamos carne vermelha, aliás essa tradição na alimentação eu mantive, embora precise confessar que amo peixe. Gosto mais de frutos do mar do que de carne e frango.

Ao contrário de minha amiga Rosa, não tenho lembranças sofridas da Semana Santa, porque fui muito rebelde, me recusei a fazer a catecismo, aliás eu não me sentia bem dentro de igrejas católicas, minha mãe queria que eu fizesse a Primeira Comunhão, mas coitada, ela não conseguiu.
Os anos passaram e graças a minha amiga Aleksandra, ainda na adolescência deixei de desgostar da igreja. Ela é católica até hoje e me possibilitou viagens incríveis na casa da avó em Entre Rios de Minas Gerais. A avó dela era a doçura em pessoa, me acolhia como neta e fazia comidas maravilhosas. Também íamos aos bailes de Minas e nem toda a experiência era santa, aliás vi um cineasta dizer que o profano e sagrado dão uma liga maravilhosa. Deve ser por isso que amo tanto o cinema.
Mas tive experiências de muita espiritualidade durante essas viagens, as missas eram lindas. Eu sofria e numa dessas até pedi aos céus para ser assistente social. Neste aspecto, alguém deveria ter falado como Jesus "Senhor não a escute, ela não sabe o que está falando". Mas eu era jovem, não sabia me proteger e Deus ouviu a minha prece. Não sei se Ele está feliz com minha carreira, mas pelo menos, tem ouvido muitas preces por causa desta escolha, por anos a fio.
Se eu fosse uma outra pessoa, teria me tornado católica por causa da minha amiga Aleksandra, nós erámos grudados, considerava os pais dela, como meus pais. E a mãe dela, dona Zenaide, adorava me mimar.
Mas sempre fui cabeça dura e fiquei muito tocada quando ouvi numa palestra espírita, o querido Ronaldo falando "um homem como Jesus certamente seria morto, muitos judeus tiveram desenlaces perversos, mas importante do que a forma que ele morreu, foi a forma que ele viveu". Eu pensei, "essa é minha religião".
Na conversa com minha amiga Rosa, falei do documentário Os caminhos de Jesus (Globoplay). Participam pesquisadores e religiosos, gostei muitos dos questionamentos que a obra suscita sobre o que teria sido verdadeiro, embora não concorde com todos os questionamentos. Penso que assim como foram levantadas algumas perguntas, talvez haja ainda mais que não foi registrado e/ou alterado sobre a vida do Mestre. Mas acredito que suas lições sobre o amor, perdão e caridade seja material suficiente para nos tornar fortes e resilientes num mundo tão sofrido.
Durante a conversa com minha amiga também comentei do incômodo com essa série sobre as pouquíssimas pessoas negras na produção. Por causa disso, fui buscar na internet uma imagem de Jesus negro e tamanha foi a minha surpresa ao descobrir o filme Collor the Cross. Tem no Youtube, mas infelizmente só tem legendas em francês.
Gosto da Semana Santa e ainda nem ouvi música hoje, mas combinamos uma tarde de jogos.
Agora me conta, quais são suas memórias com a Semana Santa?
Deixo embaixo os links para o blog da minha amiga, Preta de Palavras e do site onde descobri o vídeo. Boa Páscoa! E um abraço.
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