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A hora mais escura

Vivia por aí de mãos dadas com sua inocência como esta fosse amiga generosa.

Corria por seu planeta rosa encantada com seu mundo quase perfeito.

E quando a vida resolvia lhe dar uma taça de fel, chorava, não aceitava e depois sacodia os ombros, "é só lavar e colocar um pouco de mel".

Até que um dia, uma velha senhora bateu à sua porta. "Vamos menina, é hora de acordar!"

A moça fez pirraça, se rebelou. "Que hora, que nada".

A moça não aceitou o caminhar do dia, por isso se viu sozinha na hora mais escura.

Era meia-noite, ela teve que admitir que demoraria para seu mundo cor de rosa voltar.

Resolveu olhar o céu e se permitiu imaginar que no fundo tudo era apenas um azul mais denso. Cor de gente adulta, coisa que ela não queria ser.

Não pode deixar de admitir que só a escuridão permita ver o brilho de tantas estrelas. Foi assim que lembrou de cada taça amarga que ganhou e sentiu orgulho de todas as vezes que ressuscitou.

Sentiu-se incrível como uma das estrelas que brilhavam no céu. Mas não aceitou reconhecer o poder da escuridão, não daria o braço a torcer.

Seu mundo já não era rosa, tinha escuridão, mas a singela luz permitiu que ela olhasse no espelho. E teve um susto. Por um minuto viu a velha que tentou lhe acordar.

Olhou de novo e descobriu que já não era tão moça. Nada de certezas, nem de espinhas na cara, seu batom ao invés de rosa, estava lilás.

Sentiu-se bela e perguntou o que estava acontecendo, milagre, ciência? Não importava havia perdido sua inocência, mas ganhou a amiga consciência.


Rosa Scarlett


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