top of page
Foto do escritorRodrigo Monsores

Três livros que apreciei no mês das bruxas

Rodrigo Monsores


Outubro é o mês das bruxas e nesse mês dediquei-me à leitura de três obras na temática de bruxas, monstros e demônios, aproveitando o clima de Halloween.


Lois, a Bruxa.

Autora: Elizabeth Gaskell. Lançamento: 1861.


Uma das origens da palavra Bruxa vem do italiano “brucia”, do verbo bruciare, queimar. Claramente associada à perseguição que as bruxas foram submetidas durante séculos. E

não é diferente nesta obra.


Lois Barclay ficou órfã de pai e mãe muito jovem e partiu da Velha para a Nova Inglaterra, para tentar ser acolhida pela família de seu tio, Ralph Hickson. O problema é que o tio mora em Salém, base dos puritanos da Nova Inglaterra, que temiam a “magia” dos nativos americanos que eles passaram na faca durante a colonização, ataques de piratas na costa

e bruxas, especialmente bruxas.


Intolerância, medo e fanatismo religioso, fórmula mágica para a catástrofe. (Juro que o mágico não foi um trocadilho). O livro começa lento, mas engrena bem do segundo capítulo em diante. Uma ótima leitura sobre o tema das Bruxas.


Gostei mais dele que “A letra escarlate” de Nathaniel Hawthorne. Sim, são livros diferentes. Mas, o leitor vai encontrar semelhanças no pano de fundo dos dois. Espero não ter vivido em Salém nas minhas vidas passadas. Tenho pavor de gente fanática. O Brasil das últimas décadas, infelizmente, têm me lembrado Salém e também “O Conto da Aia”, mas essa conversa é para outra resenha.


O Diabo Apaixonado.

Autor: Jacques Cazotte. Lançamento: 1772.

Uma das origens da palavra diabo vem do grego diábolos, a força através do qual algo é lançado. Satanás, que tomamos por sinônimo, pode significar algo como “o bifurcador”, aquele que te desvia do caminho.


E não faltam desvios para Alvare, capitão da guarda do rei de Nápoles. Ele conhece um homem que lhe revela segredos sobre a Cabala e resolve, com o pouco que aprendeu, invocar o demônio.


O demônio, a princípio, mostra-se subserviente e assume a forma de uma mulher, chamada de Biondetta, por Alvare.


O vínculo e a afeição entre os dois cresce ao longo da história e Alvare se bifurca, desvia-se de seu caminho. Haverá salvação para Alvare? E para o diabo apaixonado? Descubra ao ler esta agradável novela de pouco mais de cem páginas.


Confesso que nunca havia visto o demônio ser retratado desta forma em nenhuma outra obra, seja na literatura ou cinema. Será que o diabo é tão feio como se pinta? Afinal, ele não deve ter se apaixonado por Alvare à toa. Quem era feio? Ou bonito? Alvare ou o demônio?


O médico e o monstro.

Autor: Robert Louis Stevenson. Lançamento: 1886.

Essa é uma história famosa por ter sido parodiada e adaptada para todas as mídias. No entanto, o conhecimento que as pessoas têm acerca dela é de segunda mão e a leitura da obra original mostra o quanto é rica e profunda.


Dr. Jekyll é um médico benevolente, respeitável, bem conceituado na sociedade. Mr. Hyde (trocadilho inteligente com a palavra oculto, em inglês) é deformado e sua aparência exala maldade, o que causa repugnância e pavor nas pessoas. Circula nas sombras, na névoa londrina que o oculta, enquanto Jekyll brilha com seu intelecto à luz do dia.


No meio desses dois homens, um advogado, o senhor Utterson, é colhido por uma série de eventos sinistros e perturbadores, que mexem com os brios dele e também do leitor, que acompanha a história através de suas lentes.


A palavra “Monstro” tem origem no latim, “monstrum”, “mostrare”, ou seja, mostrar. Hyde é o monstro que se oculta, mas vive ansioso por se mostrar. Jekyll é a capa, o verniz, a superfície. A jaula.


Dentro de nós reside o monstro, urrando e balançando as grades, ansioso por se libertar. É

interessante notar como a obra de Stevenson alinha-se com Freud e seu conceito de ego, superego e id.

Jekyll representando tão bem o ego, o eu e sua interação com a realidade e a sociedade e Hyde, o id, sequioso de prazer, ainda que o preço para esse prazer seja infringir sofrimento e dor aos outros.


Bruxas, demônios e monstros. Todos, talvez, representação do mal latente em nós. Pronto para sair, urrar, dilacerar. Daí a importância da literatura e de outras formas de expressão artística, através das quais podemos reconhecer nossas dores e males e expressá-los de maneira sadia, encontrando o equilíbrio entre o Jekyll e Hyde que residem em nós.


Uma boa noite das bruxas a todos e cada um que lide com seus monstros!

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Post: Blog2_Post
bottom of page