O tarde caía e Amarïe sonhava com a noite. Ela desejava encontrar Caranthir e acreditava que finalmente revelaria seu amor. Desde que algumas flores de Erelen perderam a cor, os assuntos ficaram mais urgentes. Havia um medo e uma necessidade de maiores cuidados, pois se acreditava que uma temida presença maligna estava se aproximando.
Caranthir era um elfo muito sério, ele estava sempre ocupado forjando armas e não apreciava as festas de seu povo. Em noites de comemoração, ele ficava distante, bebendo e observando tudo. Amarïe queria se tornar mestre nos feitiços. Todavia, a jovem apenas ajudava os pais recolhendo cristais.
Aquela noite seria especial, haveria uma reunião importante e Caranthir certamente estaria presente. A jovem havia planejado com as amigas, uma forma de atrair o amado, tirando-o da reunião. E quando olhasse nos olhos de Amarïe, veria o amor dela e abriria seu coração.
Os pais de Caranthir morreram quando ele era criança. Ele cresceu sozinho e aprendeu a viver solitário. Mas havia algo nele que encantava Amarïe. Ela queria tocar seus negros cabelos e penetrar na escuridão da alma dele. Mas o forjador não conseguia entender o brilho no olhar da jovem, não sabia de onde vinha aquela doce alegria e nem encontrava explicação para o tanto que ela adorava as estrelas.
Amarïe não pode colocar seu plano em ação já que antes da reunião começar, o cavalo de Amarïe sumiu e ela foi buscá-lo na parte mais fechada da floresta.
Caranthir foi o único que viu a elfa sair e não teve dúvida em ir atrás quando percebeu que as horas passavam e ela não voltava.
Caranthir ficou abalado quando descobriu que as forças do mal haviam tomado boa parte da floresta. As árvores estavam secas e contorcidas. O ataque começaria em breve. Amarïe estava presa ao chão por raízes secas de árvores, o que era claramente um feitiço.
Aquele elfo solitário conhecia armas, mas não feitiços e por isso, tentou soltá-la usando uma de suas armas, uma faca. A arma quebrou e pela primeira vez ele olhou fixamente nos olhos da jovem que tentavam dizer algo. Mas ele não podia entender, ficou fascinado com os olhos de Amarïe que brilhavam como as estrelas. Caranthir foi tomado por um sentimento que não conhecia e como louco começou a gritar para que soltassem a elfa.
Uma voz debochada falou que ele jamais poderia retirar o feitiço, já que desconhecia encantamentos. O Elfo das trevas saiu de trás das árvores e disse:
— Você não fez nada para salvar seus pais!
Caranthir estremeceu, pois aquela criatura conhecia sua história e sabia que ele fugiu enquantos os pais foram assassinados. Pela primeira vez, ele chorou. E dos seus olhos foram vertidas lágrimas sentidas como choro de criança.
O forjador passou a ouvir palavras de ajuda, que diziam que ele era uma criança. O elfo sabia que a voz era de Amarïe, mas olhou para ela e viu seus lábios imóveis. Ele ficou assustado, embora a capacidade de telepatia fosse conhecida no mundo dos elfos, Caranthir nunca teve aquela habilidade. E continuou ouvindo a voz:
— O cristal em sua espada.
O elfo ficou apavorado com a ideia que veio em sua mente. Aquele cristal que estava cravado em sua arma era a única coisa que restara de seus pais. Caranthir que sempre foi visto com um elfo racional e egoísta, passou a agir por instintos e correu na direção do elfo maldoso. Mas o rival se esquivou. O movimento brusco do elfo trevoso fez a espada enfeitiçada atingir uma grande árvore que começou a estremecer.
A árvore que já vinha sentido os efeitos dos elfos maldosos, não suportou e caiu produzindo um grande estrondo. Amarïe tremeu e começou a se mexer exibindo um olhar diferente. Com a queda da árvore, um clarão tomou conta do lugar, que foi iluminado pelas estrelas. Os dois elfos passaram a duelar de espadas, enquanto Amarïe, banhada pela luz das estrelas, pôde fazer um feitiço para se libertar da terra. Todavia, essa magia a fez subir gravitando como se estivesse sendo atraída pelo céu.
O elfo maldoso riu e falou:
— Ela será mais uma estrela.
Caranthir tomado de um sentimento especial que não saberia explicar, deu as costas para o inimigo, arrancou o cristal de sua espada e o atirou na direção do céu.
Raios iluminaram todo o povoado e logo depois, o grito de Caranthir foi ouvido muito longe. Ele foi atingido pelo inimigo e via seu sangue jorrar.
Com dificuldade o elfo, muito ferido, abriu os olhos. Ele queria encarar seu inimigo no último momento, numa prova de coragem.
Todavia, Caranthir viu o elfo do mal cair atingido pelo cristal de seus pais, que estava nas mãos de Amarïe. A elfa sabia lidar com cristais e por isso, havia apanhado a pedra, o que lhe possibilitou sair do estado de gravitação. Ela sorriu para seu amado e ele buscou forças para retribuir, num tímido sorriso. Naquele momento, Caranthir adquiriu o encantamento da magia e do amor.
Rosa Scarlett
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