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Foto do escritorRodrigo Monsores

A Morte (e a vida) de Ivan Ilitch.


Capa da editora L&PM.


É inegável a grandiosidade da literatura russa. Tolstói, Dostoiévski, Zamiatin, Gogol são exemplos de escritores de peso que deixaram um legado inestimável para a humanidade. Se você não leu nada ainda de algum desses autores, precisa conhecê-los. Ao terminar de ler essa humilde resenha, procure imediatamente a obra de um desses mestres. Asseguro que não irá se arrepender.


Leon Nikolaievitch Tolstói (1820-1910) foi autor de romances, novelas, contos e ensaios sobre religião, arte, política, filosofia, moral e história. Dentre suas maiores obras, destacam-se Guerra e Paz, Anna Kariênina e A morte de Ivan Ilitch. Sem dúvida, obras-primas da literatura russa e universal. Um dia a resenha de Guerra e Paz sairá neste blog, promessa de alguém apaixonado por essa obra.


E por que destaco Tolstói? Por que sua escrita é leve e simples, mas muito profunda. O autor, em todas as suas obras, fala sobre os grandes temas da vida humana: amor, casamento, família, honra, guerra, paz, transformações históricas e sociais, sobre o lugar do homem no mundo. Tantas camadas que se sobrepõem, sem ser complexo. Personagens interessantes, envolventes e verossímeis. Tudo isso em uma linguagem acessível a qualquer leitor. Para quem lê muito, sabe o quanto isso é difícil. Em um mar de autores consagrados e prolixos (sim, páginas e mais páginas de descrições da aparência dos personagens e da paisagem podem cansar! E muito!) Tolstói emerge como um promontório acima dos demais escritores.


A Morte de Ivan Ilitch é a novela considerada por muitos críticos como a maior da literatura mundial.

Ela narra a vida e a morte de Ivan Ilitch Golovin, membro da corte suprema russa. O que a princípio pode parecer algo banal, narrar a vida e a morte de alguém, em verdade revela-se como uma obra de arte escrita com esmero por Tolstói.


Todos sabemos desde o início que Ilitch morreu. Não há surpresas na história. O que surpreende é como a história é contada. De início, Tosltói mostra como as pessoas reagem à morte de Ilitch e é impossível não nos identificarmos com o comportamento que observamos em pessoas nos velórios da vida real, os comentários pérfidos, os interesses mesquinhos.


A seguir, Tolstói brilhantemente narra a vida de Ilitch. E ao contar a vida dele, fala de todos nós. Alguém que cresceu, estudou, se formou, casou, teve filhos, conquistou seu lugar na sociedade e viveu. Achava que estava vivendo bem, até os problemas surgirem, a doença tomar conta do corpo e mudar tudo. Fica claro que a morte é o outro lado da moeda da vida. Mas, Tolstói não se concentra na morte. O tempo inteiro, através dos acertos e erros de Ilitch, o autor nos mostra o verdadeiro valor da vida.


Destaco alguns trechos da obra:


E, cansado mas sentindo-se como um artista - um dos primeiros violinos da orquestra - depois de uma excelente performance, voltava para casa. Lá ficava sabendo que mãe e filha tinham feito e recebido visitas, o filho fora à escola, preparara suas lições com o tutor e estava dando duro para aprender o que ensinam nas escolas. Estava tudo sobre controle.


A família toda gozava de boa saúde. Ivan Ilitch às vezes queixava-se de um gosto estranho na boca e uma sensação desconfortável no lado esquerdo do estômago, mas ninguém chamaria isso de doença.


O exemplo de um silogismo que aprendera na Lógica de Kiezewetter, "Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal", parecera-lhe a vida toda muito lógico e natural se aplicado a Caio, mas certamente não quando aplicado a ele próprio. (...) "Se eu tinha que morrer, assim como Caio, deveriam ter-me avisado antes. Uma voz dentro de mim desde o início deveria ter-me dito que seria assim.


"Talvez eu não tenha vivido como deveria", ocorreu-lhe de repente. "Mas, como, se eu sempre fiz o que devia fazer?", respondeu, imediatamente, descartando essa hipótese; a solução para o enigma da vida e da morte era algo impossível de encontrar.


Ao ler a história de Ilitch, recordei-me da letra da canção, Verdade Chinesa:


"Mas o que é vida afinal?

Será que é fazer o que o mestre mandou?

É comer o pão que o diabo amassou

Perdendo da vida o que tem de melhor?"


Fiquei pensando se estou perdendo da vida o que ela tem de melhor. Se Ivan Ilitch perdeu o que havia de melhor na vida dele. Espero que você, leitor, não perca o que tem de melhor na sua. Pois a morte é a parada final obrigatória em nossas vidas, assim como foi para Ivan.


Por: Rodrigo Monsores.








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